“Sempre tem grades na minha vida”

sobre a produção técnica, política e discursiva de sujeitos (in)capazes

Autores

  • Tiago Lemões
  • Bruno Guilhermano Fernandes

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v10i1.239

Palavras-chave:

mobilização, (in)capacidades, medicalização, normatividades

Resumo

Exploraremos, neste texto, o cruzamento entre práticas, técnicas e discursos da mobilização social e da intervenção biomédica e assistencial. Articulando experiências etnográficas vivenciadas em coletivos de mobilização política de pessoas em situação de rua e em instituições de atendimento psicossocial, nosso principal argumento é o de que o engajamento individual (contra os limites e incapacidades de autogestão) e o engajamento coletivo (em movimento de reivindicação de direitos) potencializam-se mutuamente, de modo que as fronteiras entre um e outro nunca são facilmente identificáveis. Interessanos, portanto, o trabalho exercido sobre dimensões biográficas da mente, do corpo, mas também sobre as relações coletivas nas quais aquelas pessoas engajam-se – seja para potencializar o cuidado de si ou para produzir enunciações críticas e reflexivas sobre normatividades biomédicas que insistem em tomá-las como seres incapazes.

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Publicado

01-06-2018

Como Citar

Lemões, T., & Fernandes, B. G. (2018). “Sempre tem grades na minha vida”: sobre a produção técnica, política e discursiva de sujeitos (in)capazes. Revista De Antropologia Da UFSCar, 10(1), 275–299. https://doi.org/10.52426/rau.v10i1.239

Edição

Seção

Dossiê Entre a Política e a Técnica: práticas de conhecimento em comparação