A constituição de sujeitos frente a interpelação de “terrorista”

reflexões a partir da presença síria no Brasil

Autores

  • Juliana Carneiro da Silva

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.330

Palavras-chave:

constituição de sujeitos, terrorismo, Islã, árabes

Resumo

Em pesquisa etnográfica conduzida junto a refugiados sírios entre os anos de 2017 e 2019 em cidades do estado de São Paulo, deparei-me frequentemente com narrativas de situações em que os interlocutores foram interpelados a partir da palavra “terrorista” ou de expressões correlatadas, como “homem-bomba” e “mulher-bomba”. Tais interpelações não se restringem aos sírios, mas abarcam também outros estrangeiros de origem árabe e até mesmo brasileiros muçulmanos. Neste artigo discuto esse processo de interpelação e as diversas maneiras pelas quais os sujeitos se constituem frente a ele. Para tanto, mostro como a figura do “terrorista” se constrói, no Brasil, a partir da sobreposição das categorias “árabe” e “muçulmano” e como ela pode ser acionada frente a diferentes sujeitos; apresento ainda as várias relações que os interlocutores entretém com tal interpelação, ressaltando como tais relações podem contestar ou reforçar a figura do “terrorista”.

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Publicado

01-06-2020

Como Citar

Silva, J. C. da. (2020). A constituição de sujeitos frente a interpelação de “terrorista”: reflexões a partir da presença síria no Brasil. Revista De Antropologia Da UFSCar, 12(1), 19–42. https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.330

Edição

Seção

Dossiê: Performance, processos de diferenciação e constituição de sujeitos