Política da reclusão

chefia e fabricação de corpos no Alto Xingu

Autores

  • Carlos Eduardo Costa

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.335

Palavras-chave:

Alto Xingu, reclusão pubertária, rituais interétnicos, luta

Resumo

Este texto debaterá a “reclusão pubertária” masculina no Alto Xingu. A relação entre a fabricação dos corpos dos lutadores e a política alto-xinguana demonstrará como os jovens chefes são preparados para serem campeões de luta no egitsü, pois um campeão é, potencialmente, um chefe. O egitsü, ritual pós-funerário em homenagem aos chefes falecidos, é o momento de maior visibilidade no sistema, e a luta que o encerra, sua principal atração. Em oposição ao destaque dos lutadores nos rituais interétnicos encontra-se a reclusão como período de isolamento do neófito, processo dialético entre exibição pública de performances e confinamento doméstico para produção. Através da fabricação do corpo sairemos das noções patológicas, que pautaram os estudos sobre a reclusão, para associá-la a outras questões, das disputas políticas às relações cosmológicas, da noção de homenagem a de substituição, da sincronia à diacronia, passando pela proposta de entender essa preparação também por seu lado técnico e esportivo.

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Publicado

01-06-2020

Como Citar

Costa, C. E. (2020). Política da reclusão: chefia e fabricação de corpos no Alto Xingu. Revista De Antropologia Da UFSCar, 12(1), 145–172. https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.335

Edição

Seção

Dossiê: Performance, processos de diferenciação e constituição de sujeitos