Além das coisas

o elogio da alienabilidade de Marcel Mauss

Autores

  • Marcos Lanna

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v6i2.121

Palavras-chave:

dom, mercadoria, Mauss, Marx, inalienabilidade

Resumo

O artigo retoma a apresentação da circulação de objetos e pessoas em Marcel Mauss e indica que não só algum grau de inalienabilidade está nela presente, como tem sido reconhecido pela antropologia, mas também de alienabilidade, condição da comunicação. Dados o futuro do estado e a disseminação das relações de mercado, importa desvendar continuidades lógicas e históricas entre dom e mercadoria, que, argumento, estão em relação de transformação e de hierarquia. Mauss e K. Marx, cada um a seu modo, revelam especificidades da troca capitalista: Marx o aspecto ideológico da igualdade desta troca como falsa consciência, Mauss sua desigualdade e a inclusão nela mesma de formas não capitalistas de redistribuição, especialmente a previdência (privada e estatal), como compensações. Há assim complementariade tanto entre dom e mercadoria como entre Mauss e Marx. Este mostra ser o trabalho mercadoria, Mauss um dom, sacrificio: o trabalhador dá de si. Há uma teoria do valor implicita na teoria de Mauss do dom como inalienável, que deve ser considerada em relação à critica de Marx da alienação do trabalhador no modo de produção capitalista. 

Referências

ANTONIO, Maria C. A. 2015. A ética do desejo: estudo etnográfico da formação de psicanalistas em escolas lacanianas de psicanálise. Tese de Doutorado, PPGAS, Universidade Federal de São Carlos.

APPADURAI, Arjun. (ed.). 1986. The social life of things. commodities in cultural perspective. Cambridge: Cambridge University Press.

ARON, Raymond. 1970. “Le paradoxe du meme et de l’autre”. In: J. Pouillon & P. Maranda (eds.), Échanges et communications. The Hague: Mouton. pp. 943-952.

BLOCH, Maurice; PARRY, Jonathan. (eds.). 1989. Money and the morality of exchange. Cambridge: Cambridge University Press.

DERRIDA, Jacques. 1994. Given time. Chicago: University of Chicago Press. vol. 1. Counterfeit Money.

DOUGLAS, Mary. 1990. “No free gift”. In: M. Mauss. The gift. London: Routledge. pp. ix-xxi.

DUMONT, Louis. 1967. Homo hierarchicus: essai sur le système des castes. Paris: Gallimard.

______. 1977. Homo aequalis: genèse et épanouissement de l’idéologie économique. Paris: Gallimard.

______. 1983. “Préface”. In: K. Polanyi, La grande transformation: aux origins politiques et économiques de notre temps. Paris: Gallimard.

DURKHEIM, Emile; MAUSS, M. 1901-1902. “Essai sur quelques formes primitives de classification”.L’Année Sociologique, 6:1-72.

FOURNIER, Marcel. 1994. Marcel Mauss. Paris: Fayard.

GEERTZ, Clifford. 1980. Negara: the theatre State in nineteenth-centurt Bali. Princeton: Princeton University Press.

GODBOUT, Jacques; CAILLÉ, A. 2000. The world of gifts. Montreal: McGill-Queen’s.

GRAEBER, David. 2001. Toward an anthropological theory of value: the false coin of our own dreams. New York: Palgrave Macmillan.

______. 2007. “Turning modes of production inside out: or, why capitalism is a transformation of slavery”. In: ______. Possibilities: essays in hierarchy, rebellion and desire. Oakland: AK Press.

GRAEBER, David; LANNA, Marcos. 2005. “Comunismo ou comunalismo? A política e o Ensaio sobre o dom”. Revista de Antropologia, 48(2):501-523.

GREGORY, Chris. 1982. Gifts and commodities. London: Academic Press.

KAN, Sergei. 1989. Symbolic immortality: the Tlingit potlatch of the nineteenth century. Washington: Smithsonian Institution Press.

LACAN, Jacques. 1997. O Seminário, Livro 7: a ética na psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.

LAIDLAW, James. 2008. “A free gift makes no friends”. Journal of the Royal Athropological Institute, (4):617-634.

LANNA, Marcos. 1995. A dívida divina, troca e patronagem no nordeste brasileiro. Campinas: UNICAMP.

______. 1996. “Reciprocidade e hierarquia”. Revista de Antropologia, 39(1):111-144.

LANNA, Marcos. 2000. Nota sobre Marcel Mauss e o Ensaio sobre a dádiva. Revista de Sociologia e Política, 14:173-194. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782000000100010

______. 2005. “As sociedades contra o Estado existem? Reciprocidade e poder em Pierre Clastres”. Mana, 11(2):419-448. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132005000200004>. Acesso em: 05 fev. 2014.

______. 2007. “God-parenthood and sacrifice in Northeast Brazil”. Vibrant, 4(2):121-152. Disponível em: <http://www.vibrant.org.br/downloads/v4n2_lanna.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2014.

______. 2013. “De Claude Lévi-Strauss a Pierre Clastres e retorno. da troca à ‘filosofia da chefia’ e desta à política como código estrutural”. Perspectivas, 43:17-33.

LANNA, M., COSTA, C.E., & A. COLLI. 2015. “Sacrifício, tempo, antropologia: três exercícios em torno de O Pensamento Selvagem”. Revista de Antropologia, 58(1): 322-361.

LEACH, Edmund. 1954. Political systems of Highland Burma: a study of Kachin social structure. London: The London School of Economics and Political Science/G.Bell & Sons.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1947. “La sociologie française”. In: G. Gurvitch (ed.), La Sociologie au XXe. siècle. II, les études dans les différents pays. Paris: PUF. pp. 513-545.

______. 1949. Les Structures élémentaires de la parenté. Paris: PUF.

______. 1950. “Introduction à l’oeuvre de Marcel Mauss”. In: ______. Sociologie et anthropologie. Paris: PUF. pp. IX-LII.

______. 1958. Anthropologie Structurale. Paris: Plon.

______. 1984. Paroles données. Paris: Plon.

______. 2008 [1979]. La voie de masques. Paris: Gallimard. pp. 873-1050. Ouvres, Pléiade.

______. 2013 [1963]. “As descontinuidades culturais e o desenvolvimento econômico”. In: ______. Antropologia Estrutural dois. São Paulo: Cosac & Naify. pp. 345-356.

LUKÁCS, Georg. 1974. “A Reificação e a consciência do proletariado”. In: ______. História e Consciência de Classe: estudos de dialéticamarxista. Porto: Publicações Escorpião. pp. 97-231.

MALINOWSKI, Bronislaw. 1951 [1926]. Crime and custom in savage society. 6. ed. London: Routledge & Kegan Paul.

______. 1953 [1922]. Argonauts of the Western Pacific. 4. ed. London: Routledge & Kegan Paul.

MANIGLIER, Patrice. 2000. “L’humanisme interminable de Lévi-Strauss”. Les Temps Modernes, 609:216-241.

MARRIOT, McKim. 1976. “Hindu transactions: diversity without dualism”. In: B. Kapferer (ed.), Transaction and meaning: directions in the anthropology of exchange and symbolic behavior. Philadelphia: ISHI Publications. pp. 109-142.

MARX, Karl. 1983 [1867]. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural. vol. I, tomo I.

MAUSS, Marcel. 1920. “Les idées socialistes Le principe de la nationalisation”. In: ______. Écrits politiques: textes réunis et présentés par Marcel Fournier. Paris: Fayard. pp. 249-266.

______. 1922. “La vente de la Russie”. In: ______. Écrits politiques: textes réunis et présentés par Marcel Fournier. Paris: Fayard. pp. 472-476.

______. 1969 [1924]. “Response to a communication by A.Aftalion, ‘Les fondaments du socialisme’”. Paris: Minuit. pp .634-638. Oeuvres vol. III.

______. 2003. Sociologia e antropología. São Paulo: Cosac & Naify.

MERLEAU-PONTY, Maurice. 1962 [1959]. “De Mauss a Claude Lévi-Strauss”. In: ______. Sinais. Lisboa: Minotauro. pp. 171-188.

MUNN, Nancy. 1986. The fame of Gawa: a symbolic study of value transformation in a Massim Society. Cambridge: Cambridge University Press.

OBERG, Kalervo. 1973. The Social economy of the Tlingit indians. Seattle: The University of Washington Press.

PARRY, Johnatan. 1986. The gift, the Indian Gift and the ‘Indian Gift’. Man, 21(3):453-473. http://dx.doi.org/10.2307/2803096.

POLANYI, Karl. 2000. A Grande Transformação: as origens de nossa época. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus.

SCUBLA, Lucien. 2011. “Le symbolique chez Lévi-Strauss et chez Lacan”. La Revue du M.A.U.S.S., 37(1):223-239.

VALERI, Valerio. 1992. “Relativisme culturel”. In: P. Bonte & M. Izard (eds.), Dictionnaire d’ethnologie et anthropologie. Paris: PUF. pp. 618-619.

______. 1994. “Review of Weiner, A. 1992. Inalienable possessions: the paradox of keeping while giving”. American Anthropologist, 96(2):446-448.

VENKATESAN, Soumhya. 2011. “The social life of a ‘free’ gift”. American Ethnologist, 38(1):47-57. http://dx.doi.org/10.1111/j.1548-1425.2010.01291.x.

WALENS, Stanley. 1981. Feasting with cannibals: an essay on Kwakiutl cosmology. Princeton: Princeton University Press.

WEINER, Annette. 1992. Inalienable possessions: the paradox of keeping while giving. Berkeley: University of California Press.

Downloads

Publicado

01-12-2014

Como Citar

Lanna, M. (2014). Além das coisas: o elogio da alienabilidade de Marcel Mauss. Revista De Antropologia Da UFSCar, 6(2), 34–56. https://doi.org/10.52426/rau.v6i2.121