Tempo e qualidade na Vila de Cimbres

uma abordagem etnográfica da (contra)mistura

Autores

  • Clarissa Martins Lima

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v9i2.204

Palavras-chave:

Xukuru do Ororubá, pessoa, tempo, antropologia

Resumo

Aqui tem gente de toda qualidade, dizem os moradores da Vila de Cimbres, aldeia Xukuru do Ororubá, localizada entre o agreste e o sertão pernambucano: católicos, evangélicos, catimbozeiros, médiuns, índios, caboclos, entidades, encantos, espíritos, finados, defuntos, santos. Mas nem todas essas qualidades existem do mesmo modo ou são igualmente desejáveis. Nesse trabalho, exploro etnograficamente estes muitos modos que a pessoa pode assumir na Vila de Cimbres através das noções de qualidade e tempo. Aqui, tempo e qualidades são noções que funcionam como inflexões da diferença que, pretérita ou presente, não deixa de se perpetuar, alargando as possibilidades de ser e estar no mundo. Assim, busco mostrar como o mundo Xukuru aparece ora como misturas, ora como purificações instáveis destas qualidades-tempos que em alguns momentos se sobrepõem, em outros apenas se tocam e, em outros ainda, se repelem. Ao mesmo tempo, busco me valer dos usos que os Xukuru fazem de termos comumente apartados em especialidades da antropologia, e explorar os efeitos desse encontro para o fazer antropológico.

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Publicado

01-12-2017

Como Citar

Lima, C. M. (2017). Tempo e qualidade na Vila de Cimbres: uma abordagem etnográfica da (contra)mistura. Revista De Antropologia Da UFSCar, 9(2), 87–107. https://doi.org/10.52426/rau.v9i2.204

Edição

Seção

Dossiê (Contra)Mestiçagens Ameríndias e Afro-Americanas

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