Reconversão torcedora

transgressão ou um caso de extensão simbólica?

Autores

  • Luiz Henrique de Toledo

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.332

Palavras-chave:

formas de torcer, torcidas, reconversão, futebol, antropologia das práticas esportivas, antropologia dos esportes

Resumo

Este artigo trata das formas de torcer (Toledo, 2002) de um ponto de vista ainda pouco observado. Centrado na esfera da pessoa e não propriamente nas estratégias que definem regimes classificatórios de adesão clubísticas, o argumento incide sobre processos de relativização da socialidade fixada em torno dos coletivos que unem times e militância, definindo o torcedor como parte de um todo. O argumento está acomodado na noção de reconversão, isto é, processo tardio em que a pessoa torcedora pode ser retotalizada. Reconversão não é tomada somente como manifestação de crise geracional ou de personalidade, desapego identitário, arrefecimento do interesse pela prática torcedora, mas como processo de extensão do torcer que multiplica as possibilidades da mudança e que pode levar à troca ou experimentações dessa adesão esportiva. Tal processo aparentemente mais raro ou ainda pouco verbalizado contrasta com várias formas de adesão ou abandono da militância clubística, mostrando que o torcer pode ser observado como processo de relativização das convenções inatas ou inertes de justaposição de referentes simbólicos exteriores na fabricação da pessoa torcedora.

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Publicado

01-06-2020

Como Citar

Toledo, L. H. de. (2020). Reconversão torcedora: transgressão ou um caso de extensão simbólica?. Revista De Antropologia Da UFSCar, 12(1), 69–93. https://doi.org/10.52426/rau.v12i1.332

Edição

Seção

Dossiê: Performance, processos de diferenciação e constituição de sujeitos