Conexões afroindígenas no jarê da Chapada Diamantina

Autores

  • Gabriel Banaggia

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v9i2.206

Palavras-chave:

Jarê, religiões afro-brasileiras, sincretismo, cosmopolítica, afroindígena

Resumo

O jarê é uma religião de matriz africana existente somente na Chapada Diamantina (BA), e exemplifica um desenvolvimento paralelo ao dos candomblés litorâneos dos quais é aparentado, tendo sido elaborado por um conjunto de senhoras africanas, chamadas nagôs, que chegaram deliberadamente ou foram levadas escravizadas para a região. Esse conjunto estabeleceu uma prática primeva do jarê num compromisso com potências ligadas a indígenas que, apesar de não mais habitarem a região, continuavam sendo os donos legítimos daquela terra, ao contrário dos brancos que passaram a explorá-la na cata de pedras preciosas. Diferentemente do que aconteceu em tradições similares, entretanto, no jarê as forças indígenas se insinuaram de forma mais contundente, fazendo com que ele se transformasse levando todas as entidades cultuadas nas cerimônias a serem consideradas caboclas. Se os caboclos do jarê contemporâneo travam uma luta que é antes de tudo espiritual, seus efeitos em última instância envolvem uma retomada de territórios tanto existenciais como físicos, já que fez parte do compromisso estabelecido no passado o retorno das populações indígenas às terras que por direito são suas.

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Publicado

01-12-2017

Como Citar

Banaggia, G. (2017). Conexões afroindígenas no jarê da Chapada Diamantina. Revista De Antropologia Da UFSCar, 9(2), 123–133. https://doi.org/10.52426/rau.v9i2.206

Edição

Seção

Dossiê (Contra)Mestiçagens Ameríndias e Afro-Americanas