Tematizando uma casa-grande e um engenho de açúcar: efeitos da patrimonialização e herança colonial no turismo histórico

Autores

  • Márcia Lopes Iscte e UNL

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v13i1.368

Palavras-chave:

turismo histórico, turismo responsável, estereótipos raciais, escravidão, tematização

Resumo

Este artigo analisa a tematização de uma pousada comercial localizada em um município histórico da região Centro-Oeste. Nesse aspecto, analisa principalmente esculturas alusivas a estereótipos raciais integradas à tematização. O texto argumenta que existe uma estreita associação entre história oficial, patrimônio tangível e tematização que pressupõe a vitória econômica e simbólica luso-brasileira na formação de sua historicidade. Dividido em três seções, inicialmente o texto analisa as esculturas e os ambientes da pousada. A segunda seção apresenta dados sociodemográficos do município, discute nuances na formação do patrimônio material e apresenta o perfil do turista em visita à cidade. Termina refletindo sobre turismo e mediação responsáveis, propondo tanto para turistas quanto para governos e empreendedores interessados ​​na representação afro-brasileira alternativas para criticar a produção da historiografia e reverter padrões que têm excluído mulheres negras ativistas da elite decisória nas questões envolvendo patrimônio e turismo histórico na cidade.

Referências

ABREU, Regina. 2005. “Quando o campo é o patrimônio: notas sobre a participação de antropólogos nas questões do patrimônio”. Sociedade e Cultura, 8(2):37-52.

ALBERNAZ, Renata Overhausen. 2020. “Democracia e sistema de proteção do patrimônio cultural no Brasil”. Revista Direito, Estado e Sociedade, 58(out-dez):1-19.

ALDERMAN, Derek H. 2010. “Surrogation and the politics of remembering slavery in Savannah, Georgia (USA)”. Journal of Historical Geography, 36(1):90–101.

ALLIS, Thiago. 2016. “Em busca das mobilidades turísticas”. Plural, 23(2):94–117.

ANDERSON, Benedict. 1991. “Census, map, museum”. In: Imagined communities: reflections on the origin and spread of nationalism. Revised ed. New York: Verso. pp. 163-186.

ARAÚJO, Joel Zito. 2000. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Senac.

AZEVEDO, Célia M. Marinho de. 1987. “Introdução”. In: Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites do século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra. pp. 17-32.

AZEVEDO, Heloisa Pereira Lima; ALVES, Adriana Melo. 2010. “Rides – por que criá-las?”. Geografias, 06(2):87–101.

BAPTISTA, Luís. 2016. “A dimensão lúdica da cidade: uma perspectiva de análise a propósito da programação global de lugares para o entretenimento urbano”. In: N. M. Augusto (ed.), Sociedade em debate. Lisboa: Edições Húmus. pp. 349-363.

BARON, Lia. 2019. “Fomento às expressões culturais dos territórios periféricos: algumas experiências brasileiras”. In: L. Calabre & A. Domingues (eds.), Estudos sobre políticas culturais e gestão da cultura: análises do campo da produção acadêmica e de práticas de gestão. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa. pp. 235-251.

BAUDRILLARD, Jean. [1981] 1991. “A Precessão dos simulacros”. In: Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’Água. pp. 7-57.

BEARDSWORTH, Alan; BRYMAN, Alan. 1999. “Late modernity and the dynamics of quasification: the case of the themed restaurant”. The Editorial Board of the Sociological Review, 47(2):228–257.

BENJAMIN, Stefanie; ALDERMAN, Derek. 2018. “Performing a different narrative: museum theater and the memory-work of producing and managing slavery heritage at southern plantation museums”. International Journal of Heritage Studies, 24(3):270-282.

BENJAMIN, Walter. [1936] 2010. A obra de arte na época da sua reprodução mecani-zada. Amadora: Biblioteca Escola Superior de Teatro e Cinema.

BENTO, Maria Aparecida Silva. 2002. “Branqueamento e branquitude no Brasil.” In: I. Carone & M. A. S. Bento (eds.), Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes. pp. 25-58.

BOODMAN, Eva. 2017. White ignorance and complicit responsibility. Tese de Doutorado. Department of Philosophy, Stony Brook University.

BOYER, M. Christine. 1994. The city of collective memory: its historical imagery and architectural entertainments. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology Press.

BRIGHT, Candace F.; ALDERMAN, Derek H.; BUTLER, David L. 2018. “Tourist plantation owner and slavery: a complex relationship”. Current Issues in Tourism, 21(15):1743-1760.

BRYMAN, Alan. 1999. “The disneyization of society”. The Sociological Review, 47(1):25–47.

CALDWELL, Kia L. 2007. Negras in Brazil: re-envisioning Black women, citizenship and the politics of identity. New Brunswick: Rutgers University Press.

CARRINGTON, Benjamin. 2012. “Introduction: sport matters, ethnic and racial studies”. Ethnic and Racial Studies, 35(6):961–970.

CARVALHO, José Jorge de; SEGATO, Rita Laura. 2004. “Uma proposta de cotas para negros e índios na Universidade de Brasília”. O Público e o Privado, 3(jan-jun):9-59.

CÉSAIRE, Aimé. 1978. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Livraria Sá da Costa.

CHOULIARAKI, Lilie. 2006. “Adventure news: suffering without pity”. In: The spec-tatorship of suffering. London: Sage Publications. pp. 97-117.

CLIFFORD, James. 1997a. “Traveling cultures”. In: Routes: travel and translation in the late twentieth century. Cambridge: Harvard University Press. pp. 17-46.

———. 1997b. “Spatial practices: fieldwork, travel, and the disciplining of anthropolo-gy”. In: A. Gupta; J. Ferguson (eds.), Anthropological locations. Berkeley: University of California Press. pp. 185-259.

COCKS, Catherine. 2001. Doing the town: the rise of urban tourism in the United States, 1850-1915. Berkeley: University of California Press.

COELHO, Gustavo Neiva; VALVA, Milena d’Ayala. 2010. “Ciudad de Goiás. Desafíos para el presente”. Apuentes, 22(2):204–215.

COOPER, Afua. 2007. The hanging of Angélique: the untold story of Canadian slavery and the burning of Old Montréal. Athens, Georgia: The University of Georgia Press.

CURY, Marilia Xavier. 2020a. “Repatriamento e remanescentes humanos - musealia, musealidade e musealização de objetos indígenas”. Em Questão, 26(0):14–42.

———. 2020b. “Política de gestão de coleções: museu universitário, curadoria indígena e processo colaborativo”. Revista CPC, 15(30):165–191.

———. 2020c. “Povos indígenas e museologia - experiências nos museus tradicionais e possibilidades nos museus indígenas”. In: B. B. Soares (ed.), Descolonizando a Museologia – museus, ação comunitária e descolonização. Paris: Icofom; Icom. pp. 1338-1353.

DÁVILA, Jerry. 2003. “Building the ‘Brazilian man.’”. In: Diploma of Whiteness: race and social policy in Brazil, 1917-1945. Durham: Duke University Press. pp. 21-51.

FARIAS, Ricardo Chaves de; SOUZA, Mariana Rezende; COELHO, Lucas Lima. 2018. “Representações do Entorno do Distrito Federal na geografia escolar: um estudo de Valparaíso de Goiás”. Itinerarius Reflectionis - Revista Eletrônica da Graduação/Pós-Graduação em Educação, 14(2):1–17.

FEATHERSTONE, Mike. 1990. “Perspectives on consumer culture”. Sociology, 24(1):5–22.

FIGUEIREDO, Ângela. 2012. Classe média negra: trajetórias e perfis. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia.

FORTI, Andrea Siqueira D’Alessandri. 2017. “Memória, patrimônio e reparação: políticas culturais no Brasil e o reconhecimento da história da escravidão”. Mosaico, 8(12):80-102.

FOUCAULT, Michel. [1971] 1999. A Ordem do discurso. 5ª. São Paulo: Edições Loyola.

FREITAG, Bárbara. 2003. “A revitalização dos centros históricos das cidades brasileiras”. Caderno CRH, 16(38):115–126.

FREYRE, Gilberto. [1933] 2003. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48ª ed. Rio de Janeiro: Global Editora.

FURTADO, Celso. 1999. Formação econômica do Brasil. 29ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

GOLDBERG, David Theo. 1994. “‘Polluting the body politic’: race and urban location”. In: Racist culture: philosophy and the politics of meaning. Reprinted. Oxford: Blackwell. pp. 185-205.

GOULART, Bruno. 2020. “Culturas populares, política cultural e o encontro de culturas tradicionais da Chapada dos Veadeiros - GO (2000-2020)”. Vivência – Revista de Antropologia, 55(0):147–173.

HALL, Stuart. 1997a. "The work of representation". In: S. Hall (ed.), Representation: cultural representations and signifying practices. London: Sage Publications; The Open University. pp. 15-30.

———.1997b. “The spectacle of the “other”. In: S. Hall (ed.), Representation: cultural representations and signifying practices. London: Sage Publications; The Open University. pp. 223-290.

HARAWAY, Donna. 1988. “Situated knowledges: the science question in feminism and the privilege of partial perspective”. Feminist Studies, 14(3):575–599.

HESSE, Barnor. 1997. “White governmentality: urbanism, nationalism, racism”. In: S. Westwood & J. Williams (eds.), Imagining cities: scripts, signs, memory. London: Routledge. pp. 85-102.

HILL COLLINS, Patricia. 2000. “Mammies, matriarchs, and other controlling images”. In: Black feminist thought: knowledge, consciousness, and the politics of empowerment. 2nd ed. New York: Routledge. pp. 69-96.

HOLSTON, James. 1989. The modernist city: an anthropological critique of Brasilia. Chicago: University of Chicago Press.

JACQUES, Paola Berenstein. 2003. “Patrimônio cultural urbano: espetáculo contemporâneo?”. RUA – Revista de Urbanismo e Arquitetura, 6(1):32–39.

JEUDY, Henri-Pierre. 2005. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra.

———. 2006. “Maquinaria patrimonial”. RUA – Revista de Urbanismo e Arquitetura, 6(1):74–79.

KNAUSS, Paulo. 2009. “Arte pública e direito à cidade: o encontro da arte com as favelas no Rio de Janeiro contemporâneo”. Tempo e Argumento, 1(1):17–29.

LEENHARDT, Jacques. 2013. “Jean-Baptiste Debret: um olhar francês sobre os primórdios do Império Brasileiro”. Sociologia & Antropologia, 3(6):509–523.

LEFEBVRE, Henri. [1968] 1991. O direito à cidade. 5ª ed. São Paulo: Centauro.

McCREERY, David. 2006. “Introduction”. In: Frontier Goiás, 1822-1889. Standford: Standford University Press. pp. 1-23.

McKITTRICK, Katherine. 2006. Demonic grounds: Black women and the cartographies of struggle. Minneapolis: University of Minnesota Press.

MEDEIROS-FREIRE, Bianca; PINHO, Patrícia de Santana. 2016. “O Turismo num mundo de mobilidades”. Plural, 23(2):5–16.

MENEZES, Palloma Valle. 2008. “Quando a favela se torna museu: reflexões sobre os processos de patrimonialização e construção de uma favela carioca como destino turístico”. In: V Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul. Caxias do Sul, Brasil: V SeminTUR, pp. 1-18.

MILLS, Charles Wade. 1997. “Overview”. In: The racial contract. Ithaca: Cornell University Press. pp. 9-40.

MINISTÉRIO DA CULTURA. 2017. Plano setorial do artesanato 2016-2025. Brasília: MinC; Sec.

MORAES, Camila Maria dos Santos. 2010. “Turismo e o museu de favela: um caminho para novas imagens das favelas do Rio de Janeiro”. Revista Eletrônica de Turismo Cultural, 4(1):104–118.

MORAES, Camila. 2016. “Turismo em favelas: notas etnográficas sobre um debate em curso”. Plural, 23(2):65–93.

MORRISON, Toni. 1992. Playing in the dark: Whiteness and the literary imagination. New York: Vintage Books.

NASCIMENTO, Abdias do. 1989. “Genocide: the social lynching of Africans and their descendants in Brazil”. In: Brazil, mixture or massacre? Essays in the genocide of a Black people. 2nd ed. Dover: The Majority Press. pp. 57-90.

NELSON, Charmaine A. 2001. Narrating Blackness: studies in femininity, sexuality and race in European and American art of the nineteenth-century. Tese de Doutorado. Department of Art History and Archaeology, University of Manchester.

———. 2007. ““Taste” and the practices of cultural tourism: vision, proximity, and commemoration”. In: The Color of stone: sculpting the Black female subject in nineteenth-century America. Minneapolis: University of Minnesota Press. pp. 45-55.

O’DWYER, Eliane Cantarino. 2019. “Territórios em disputa e a prática profissional do antropólogo”. In: I. Tamaso; R. de S. Gonçalves & S. Vassalo (eds.), Antropologia da esfera pública: patrimônios culturais e museus. Goiânia: Imprensa Universitária. pp. 299-315.

PIERRE, Jemima. 2006. “Anthropology and the race of/for Africa”. In: P. T. Zeleza (ed.), The study of Africa. Dakar: CODESRIA. Volume 1: Disciplinary and interdisciplinary encounters. pp. 39-61.

———. 2008. “Activist groundings or groundings for activism? The study of racialization as a site for political engagement”. In: C. R Hale (ed.), Engaging contradictions: theory, politics, and methods of activist scholarship. Berkeley: University of California Press. pp. 115-135.

RAFAEL, Luciana J. et al. 2008. As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil 120 após a abolição. Brasília: Ipea.

REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. 2001. “Quilombo: Brazilian maroons during Slavery”. Cultural Survival, 25(4).

SÁ BARRETO, Francisco; MEDEIROS, Izabella. 2020. “Culturas do passado-presente: um estudo sobre o discurso da novidade e as políticas patrimoniais em um Recife de três tempos”. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, 05(14):667–691.

SANDES, Noé Freire; ARRAIS, Cristiano Alencar. 2013. “História e memória em Goiás no século XIX: uma consciência da mágoa e da esperança”. Varia Historia, 29(51):847–861.

SANT’ANNA, Márcia. 2015. “Preservação como prática: sujeitos, objetos, concepções e instrumentos”. In: M. B. Rezende et al. (eds.), Dicionário Iphan de patrimônio cultural. Brasília: Iphan; DAF; Copedoc.

SANTOS, Sonia Beatriz dos. 2008. Brazilian Black women’s NGOs and their struggles in the area of sexual and reproductive health: experiences, resistance, and politics. Tese de Doutorado. Department of Anthropology, University of Texas at Austin.

SCHWARCZ, Lilia M. 1994. “Espetáculo da miscigenação”. Estudos Avançados, 8(20):137-152.

SILVA, Marcia Cassiano da. 2019. Territórios culturais periféricos: análise da Lei do Programa de Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo. Monografia de Especialização. Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo.

SIMMEL, Georg. 1969. “The metropolis and mental life”. In: R. Sennett (ed.), Classic essays on the culture of cities. Englewood Cliffs: Prentice-Hall Inc. pp. 47-60.

STOCK, Mathis. 2007. “European cities: towards “a recreational turn”?”. Studies in Cul-ture, Polity, and Identities, 7(1):115-134.

STOCK, Mathis; LUCAS, Léopold. 2012. « La double révolution urbaine du tourisme ». Espaces et Sociétés, 3(151):15-30.

SULLIVAN, Shannon; TUANA, Nancy. 2007. Race and epistemologies of ignorance. New York: State University of New York Press.

TANAKA, Giselle et al. (eds.) 2018. Viva a Vila Autódromo: o plano popular e a luta contra a remoção. Rio de Janeiro: Letra Capital.

TROUILLOT, Michel-Rolph. 1995. Silencing the past: power and the production of his-tory. Boston: Beacon Press.

TURINO, Célio. 2010. Ponto de cultura: o Brasil de baixo para cima. 2ª ed. São Paulo: Anita Garibaldi.

VARGAS, João H. da Costa. 2004. “Hyperconsciousness of race and its negation: the dialectic of white supremacy in Brazil”. Identities: Global Studies in Culture and Power, 11(4):443-470.

VELHO, Gilberto. 2006. “Patrimônio, negociação e conflito”. Mana: Estudos de Antropologia Social, 12(1):237-248.

VIEIRA, Antônio Carlos Pinto. 2007. “Maré: casa e museu, lugar de memória”. Musas – Revista Brasileira de Museus e Museologia, 3(0):153–160.

VIEIRA, Marina Cavalcante. 2019. "A Exposição Antropológica Brasileira de 1882 e a exibição de Índios botocudos: performances de primeiro contato em um caso de zoológico humano brasileiro". Horizontes Antropológicos, 25(53):317-357.

WIEGMAN, Robyn. 1999. “Whiteness studies and the paradox of particularity”. Boundary 2, 26(3):115–150.

Downloads

Publicado

05-12-2021

Como Citar

Lopes, M. (2021). Tematizando uma casa-grande e um engenho de açúcar: efeitos da patrimonialização e herança colonial no turismo histórico. Revista De Antropologia Da UFSCar, 13(1). https://doi.org/10.52426/rau.v13i1.368