O cuidado desnatura(liza)do
Relatos e reflexões a partir de experiências no trabalho em saúde com famílias atravessadas pelo cárcere
DOI:
https://doi.org/10.14244/rau.v16i1.474Palavras-chave:
cuidado, famílias, gênero, cárcere, política pública, saúdeResumo
O artigo tem como temática o cuidado com famílias, em situação de vulnerabilidade social, que possuem algum vínculo com o cárcere. Busca-se refletir a produção do cuidado, a partir das experiências em um estágio realizado entre os anos de 2019 e 2021, em uma política pública voltada à primeira infância. São desenvolvidas cenas ensaísticas a respeito de alguns encontros, permitindo aprofundar elementos que os permeiam, revelando uma variedade de contradições e atravessamentos à perspectiva de cuidado em saúde. Na busca cartográfica das forças constituintes de alguns elementos e em considerar as complexidades da realidade, convocam-se debates, principalmente, de raça, classe e gênero. Problematizo, assim, uma discursividade excessivamente técnica e universalista a respeito do cuidado, apostando na possibilidade de uma produção singular da existência. Concebe-se o cuidado, então, enquanto construção ética, que se produz/inventa por meio da desestabilização de verdades colonizadoras.
Referências
ABU-LUGHOD, Lila. 2018. A escrita contra a cultura. [Trad. F. C. V. S. R. do Rego & L. Durazzo; Revisão técnica de L. Valentini]. Equatorial, 5(8):193-226.
A REDENÇÃO DE CAM. 2022. Wikipédia, a enciclopédia livre.
ALBINO, Chiara; OLIVEIRA, Jainara; MELO, Mariana. 2021. “Neoliberalismo, neoconservadorismo e crise em tempos sombrios”. Editora Seriguela.
ANDRADE, Ademilde Machado et al. 2014. “Visita domiciliar: validação de um instrumento para registro e acompanhamento dos indivíduos e das famílias”. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 23(1):165-175.
ANDRADE, Eliane Oliveira; GIVIGI, Luiz Renato; ABRAHÃO, Ana Lúcia. 2018. “A ética do cuidado de si como criação de possíveis no trabalho em Saúde”. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 22(64):67-76.
DE LA BELLACASA, Maria Puig. 2012. “‘Nothing Comes Without Its World’: Thinking with Care”. The Sociological Review, 60(2):197-216.
DE LA BELLACASA, Maria Puig et al. 2023. “O pensamento disruptivo do cuidado”. Anuário Antropológico, 48(1).
BERSANI, Humberto. 2018. “Aportes teóricos e reflexões sobre o racismo estrutural no Brasil”. Extraprensa.
BUTLER, Judith. 2019. Vida precária: Os poderes do luto e da violência. Trad. Andreas Lieber. Belo Horizonte: Autêntica.
COLMEIA, Zé. 2016. Família e Cárcere – Os efeitos da punição sobre a unidade familiar e a necessidade de inclusão. Forense.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. 2016. Resolução nº 510 do CNS, de 07 de abril de 2016.
COSTA, Pedro Henrique Antunes; MENDES, Kíssila Teixeira. 2020a. “Colonização, Guerra e Saúde Mental: Fanon, Martín-Baró e as Implicações para a Psicologia Brasileira”. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 36(14):1-12.
_______. 2020b. “Dialética do Fatalismo: do Fatalismo dos Indivíduos para o da Ordem”. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 2(1):1808-428.
DECRETO Nº 8.869, DE 5 DE OUTUBRO DE 2016 (revogado). Institui o Programa Criança Feliz. Presidência da República. Brasil.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1980. Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34.
_______. 1995. “Introdução: Rizoma”. In: Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia (Vol. 1). São Paulo: Editora 34.
EMICIDA. 2015. Mãe. [música Emicida Oficial VEVO]
FEDERICI, Silvia; COX, Nicole. 2020. Contra-atacando desde a cozinha. Salários para o trabalho doméstico: uma perspectiva sobre o capital e a esquerda. Terra Sem Amos.
FERNANDES, Kelly Cristina; GARCIA, Daniela Fontes. 2021. Teatro Social dos Afetos. Editora da Autora.
FERREIRA, Regina; FERRIANI, Maria das Graças; MELLO, Débora F.; CARVALHO, Isabel P.; CANO, Marilza A.; OLIVEIRA, Luciana A. 2012. “Análise espacial da vulnerabilidade social da gravidez na adolescência”. Cadernos de Saúde Pública, 28(2):313-323.
FONSECA, Claudia. 2019. “Algumas reflexões em torno do ‘abandono materno’”. In: FONSECA, C. Leituras de resistência: corpo, violência e poder. Porto Alegre: Editora Mulheres.
FONSECA, Tania Mara Galli.; COSTA, Luis Artur. 2013. “As durações do devir: como construir objetos-problema com a cartografia”. Fractal: Revista de Psicologia, 25(2):415-432.
FOUCAULT, Michel. 2004. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
_______. 2014. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Editora Vozes.
GARCIA, Adir; YANNOULAS, Silvia Cristina. 2017. “Educação, pobreza e desigualdade social”. Em Aberto, 30(99):21-41.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. 2003. “Como trabalhar com ‘raça’ em sociologia”. Educação e Pesquisa, 29(1):93-107.
HARAWAY, Donna J. 1997. Modest_Witness@Second_Millennium.FemaleMan©_Meets_OncoMouse™: Feminism and Technoscience. New York: Routledge.
KLEIN, Carin. 2012. “Educação de mulheres-mães pobres para uma ‘infância melhor’”. Revista Brasileira de Educação, 17(51):647-748.
LEI ESTADUAL Nº 12.544, DE 3 DE JULHO DE 2006. Institui o Programa Primeira Infância Melhor – PIM – e dá outras providências. Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
LEI FEDERAL Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância. Presidência da República. Brasil.
LIMA, Antonio; ALVARENGA FILHO, José Rodrigues. 2018. “A potência do cuidado: uma experiência no sistema prisional de Pernambuco”. Psicologia: Ciência e Profissão, 38(2):117-130.
MARTIN-BARÓ, Ignacio. 2017. “O latino indolente: caráter ideológico do fatalismo latino-americano”. In: LACERDA JÚNIOR, Fernando (org.). Crítica e libertação na Psicologia. Petrópolis: Vozes.
MENEZES, Gabriela; LOPES, Violeta. 2020. Encarceramento feminino no Brasil e nos Estados Unidos: o que dois dos países que mais encarceram no mundo têm em comum?. Instituto Terra, Trabalho e Cidadania.
MENEZES, Gabriela; PEREIRA, Violeta. 2020. Infopen Mulheres 2017: encarceramento feminino em SP e marcadores sociais da diferença. Instituto Terra, Trabalho e Cidadania.
MEYER, Dagmar E. E. 2005. “A politização contemporânea da maternidade: construindo um argumento”. Revista Gênero, 6(1):81-104.
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia. 2013. “Sobre a validação da pesquisa cartográfica: acesso à experiência, consistência e produção de efeitos”. Fractal: Revista de Psicologia, 25(2):391-414.
PAULON, Simone M. A.; ROMAGNOLI, Roberta C. 2010. “Pesquisa-intervenção e cartografia: melindres e meandros metodológicos”. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 10(1):85-102.
PEREIRA, Everton Luís. 2016. “Famílias de mulheres presas, promoção da saúde, e acesso às políticas sociais no Distrito Federal, Brasil”. Ciência & Saúde Coletiva, 21(7):2123-2134.0
PORTAL DE DADOS DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. 2017. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Brasil.
PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR. 2021. O que é o PIM? Ministério da Saúde.
RACIONAIS MC’s. 1997. Sobrevivendo no Inferno. [Álbum Costa Nostra].
RONCOLATO, Murilo. 2018. “A tela ‘A Redenção de Cam’ e a tese do branqueamento no Brasil”. Nexo Jornal, 14 de julho.
SILVA, Amanda Daniele. 2015. Mãe/mulher atrás das grades: a realidade imposta pelo cárcere à família monoparental feminina. Cultura Acadêmica. [E-book].
TIBOLA, Talita. 2016. “Cuidado com dissenso: pensando mobilizações político-artísticas no Rio de Janeiro a partir de uma ética-prática do cuidado”. Pesquisas e Práticas Psicossociais, São João del Rei, 11(1):185-199.
TRONTO, Joan C. 1993. Moral Boundaries: A Political Argument for an Ethic of Care. New York and London: Routledge.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista de Antropologia da UFSCar

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.