Antropologia dos medicamentos

uma revisão teórico- metodológica

Autores

  • Rosana Castro

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.68

Palavras-chave:

antropologia dos medicamentos, biografia, nexo, economia, técnica

Resumo

A antropologia é ainda relativamente carente de sistematizações de estratégias teórico-metodológicas para estudo dos medicamentos modernos em suas dimensões culturais, simbólica, material e sociotécnica. Este trabalho visa contribuir com uma revisão crítica, comparação e cotejamento de diferentes investigações e teorizações sobre esses objetos. A partir de uma revisão preliminar da literatura antropológica sobre o assunto, passaremos em revista propostas de abordagem que lançam luzes para uma vertente de estudos especificamente neles centrada, como por exemplo a biografia, o nexo, a técnica e a econômica dos medicamentos. Salientam-se as estratégias de abordagem ao tema, as referências teóricas acionadas e as análises desenvolvidas por essas distintas abordagens, sistematizando-as de modo a explicitar o estatuto que os medicamentos recebem em cada uma delas e, nesse passo, analisar em que medida tal opção ilumina novas perspectivas para problemas antropológicos mais amplos. 

Referências

AKRICH, Madeleine. The de-scription of technical objects. In: BIJKER, W.; LAW, J. (Orgs). Shaping Technology Building Society: Studies in Sociotechnical Change. Cambridge: MIT Press, 1992. p. 205-224.

______. Les objets techniques et leurs utilisateurs: de la conception à la action. Raisons pratiques, n. 4, 1993, p. 35-57.

______. Petite Anthopologie du Médicament. Techniques et Culture, n. 25- 26, 1995, p. 129-157.

______. Le Médicament Comme Objet Technique. Revue Internationale de Psychopathologie, n. 21, 1996, p. 135-158.

AKRICH, Madeleine; MÉADEL, Cécile. Prendre ses médicaments / prendre la parole: les usages de médicaments par les patients dans les listes de discussion électroniques. Sciences Sociales et Santé, v. 1, n. 20, 2002, p. 89-116.

ANGELL, Marcia. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos. Rio de Janeiro: Record. 2007. 319 p.

APPADURAI. Arjun. Introdução: mercadorias e a política de valor. In: ______. (Org.). A vida social das coisas. As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: EdUFF, 2008. p. 15-88.

AZIZE, Rogério Lopes; ARAÚJO, Emanuelle Silva. A pílula azul: uma análise de representações sobre masculinidade em face do Viagra. Antropolítica, Niterói, n. 14, 2003, p. 133-151.

AZIZE, Rogério Lopes. A química da qualidade de vida: um olhar antropológico sobre o uso de medicamentos em classes médias urbanas brasileiras. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade

Federal de Santa Catarina, 2004.

______. Notas de um "não-prescritor": uma etnografia entre estandes da indústria farmacêutica no Congresso Brasileiro de Psiquiatria. In: TORNQUIST, C.S; MALUF, S. W. (Orgs.). Gênero, saúde e aflição: abordagens antropológicas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2010a. p. 367-401.

______. A nova ordem cerebral: a concepção de 'pessoa' na difusão neurocientífica. Tese (Doutorado). Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010b.

BIEHL, João. Pharmaceutical Governance. In: PETRYNA, A.; LAKOFF, A.; KLEINMAN, A. Global Pharmaceuticals. Duke Press University, 2007, p. 206-239.

CHIEFFI, Ana Luiza; BARATA, Rita Barradas. Judicialização da política pública de assistência farmacêutica e eqüidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 8, 2009, p. 1839 -1849.

DAL PIZZOL, Tatiane da Silva et al. Uso não-médico de medicamentos psicoativos entre escolares do ensino fundamental e médio no Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, 2006, p. 109-115.

DESCLAUX, Alice; LÉVY, Joseph-Josy. Cultures et médicaments. Ancien objet ou nouveau courant en anthropologie médicale? Anthropologie et Societés, v. 27, n. 2, 2003, p. 5-21.

DIEHL, Eliana; RECH, Norberto. Subsídios para uma assistência farmacêutica no contexto da atenção à saúde indígena: contribuições da antropologia. In: LANGDON, E. J.; GARNELO, L. (Orgs.). Saúde dos Povos Indígenas: reflexões sobre a antropologia participativa. Rio de Janeiro: Contra Capa/Associação Brasileira de Antropologia, 2004, p. 149-169.

DIEHL, Eliana; MANZINI, Fernanda; BECKER, Marina. "A minha melhor amiga se chama fluoxetina": consumo e percepções de antidepressivos entre usuários de um centro de atenção básica à saúde. In: MALUF, S. W.; TORNQUIST, C. S. (Orgs.). Gênero, saúde e aflição: abordagens antropológicas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2010, p. 331-365.

DINIZ, Debora; GUILHEM, Dirce. O que é bioética? São Paulo: Brasiliense, 2008. 122 p.

DINIZ, Debora; CASTRO, Rosana. O comércio de medicamentos de gênero na mídia impressa brasileira: misoprostol e mulheres. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, 2011, p. 94-102.

DUARTE, Luis Fernando Dias. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Zahar. 1988. 290 p.

EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2005. 255 p.

ETKIN, Nina. Global Pharmaceuticals: Ethics, Markets, Practices. American Anthropologist. Vol. 108, No. 4, 2006, p. 918-919.

GONÇALVES, Helen et al. Adesão à terapêutica da tuberculose em Pelotas, Rio Grande do Sul: Na perspectiva do paciente. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, 1999, p. 777-787.

HANNERZ, Ulf. Fluxos, Fronteiras, Híbridos: Palavras-chave da Antropologia Transnacional. Mana, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, 1997, p. 7-39.

HEALY, David. The New Medical Oikumene. In: PETRYNA, A.; LAKOFF, A.; KLEINMAN, A. Global Pharmaceuticals. Duke Press University, 2007, p. 61-84.

KOPYTOFF, Igor. A biografia cultural das coisas: a mercantilização como processo. In: APPADURAI, A. (org.). A vida social das coisas. As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: EdUFF, 2008, p. 89-121.

LEFÈFRE, Fernando. O medicamento como mercadoria simbólica. São Paulo: Cortez. 1991. 159 p.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O Pensamento Selvagem. Campinas: Papirus. 2010. 336 p. LOVELL, Anne M. Addiction Markets: The Case of High-Dose Buprenorphine in France. In: PETRYNA, A.; LAKOFF, A.; KLEINMAN, A. Global Pharmaceuticals. Duke Press University, 2007, p. 136-170.

LOPES, Noémia Mendes. Medicamentos e percepções sociais do risco. In: CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA, V. Universidade do Minho. Actas dos ateliers do V Congresso Português de Sociologia. Minho/Portugal, 2004. Disponível em < www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR4628fa43f1b3f_1.pdf>. Acesso em 25 de agosto de 2011.

MALUF, Sonia Weidner; TORNQUIST, Carmen Susana. (Orgs.). Gênero, saúde e aflição: abordagens antropológicas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2010. 466 p.

MANICA, Daniela Tonelli. A desnaturalização da menstruação: hormônios contraceptivos e tecnociência. Horizontes Antropológicos, v. 17, n. 35, 2011, p. 197-226.

MARCUS, George. Ethnography in/of the World System: The Emergence of Multi-Sited Ethnography. Annual Review of Anthropology. v. 24, 1995, p. 95-117.

NISHIJIMA, Marislei. Os preços dos medicamentos de referência após a entrada dos medicamentos genéricos no mercado farmacêutico brasileiro. RBE, v. 62, 2008, p. 189-206.

NEVES, José Pinheiro. O apelo do objeto técnico: a perspectiva sociológica de Deleuze e Simondon. Porto: Campo das Letras. 2007. 147 p.

PEDRO, Joana Maria. A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração. Rev. Bras. Hist., v. 23, n. 45, 2003, p. 239-260.

PETRYNA, Adriana; LAKOFF, Andrew; KLEINMAN, Arthur. Global Pharmaceuticals: ethics, markets, practices. Duke University Press. 2007. 301 p.

PIGNARRE, Philippe. O que é o medicamento? Um objeto estranho entre ciência, mercado e sociedade. São Paulo: Editora 34. 1999. 152 p.

______. 2005. L’avenir menaçant de l’industrie pharmaceutique. Disponível em: . Acesso em: 28 de abril de 2011.

______. Ritaline, concerta...: la vogue dangereuse des pilules de l’obéissance. In.: NEYRAND, Gérard (org.). Faut-il avoir peur de nos enfants? Politiques sécuritaires et enfance. Paris: La Découverte, 2006. Disponível em:

buissonniere.poivron.org/Ritaline,_concerta...:la_vogue_dangereuse_des_%22pilules_de_l%27ob%C3%A9issance%22>. Acesso em: 28 de abril de 2011.

______. [s.d.] L’effet placebo n’existe pas! Disponível em: <http://www.recalcitrance.com/placebo.htm>. Acesso em: 28 de abril de 2011.

RIVERS, William Halse Rivers. Medicine, Magic and Religion. London: Routledge, 2001. 192 p.

SCHENKEL, Eloir Paulo. Cuidados com os medicamentos. Porto Alegre: Editora da Universidade, UFRGS, 1996. 173 p.

SILVEIRA, Fernando Gaiger et al. Os gastos das famílias com saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 7, 2002, p. 719-731.

SILVEIRA, Maria Lúcia da. O nervo cala, o nervo fala: a linguagem da doença. Rio de Janeiro: Fiocruz. 2000. 124 p.

SPINK, Mary Jane Paris et al. A construção da AIDS-notícia. Cad. Saúde Pública, v. 17, 2001, p. 851-862.

SHARMA, Dinesh. The Anthropology of Big Pharma. Health Affairs, v. 26, n. 2, 2007, p. 590- 591.

TURNER, Victor. Floresta de Símbolos: Aspectos do Ritual Ndembu. Niterói: EdUFF. 2005. 490 p.

VAN der GEEST, Sjaak; WHYTE, Susan Reynolds. The Context of Medicines in Developing Countries: Studies in Pharmaceutical Anthropology. Dordrecht: Kluwer. 1988. 393p.

VAN der GEEST, Sjaak; WHYTE, Susan Reynolds; HARDON, Anita. The Anthropology of Pharmaceuticals: A Biographical Approach. Annual Review of Anthropology, v. 25, 1996, p. 153-178.

VAN der GEEST, Sjaak; WHYTE, Susan Reynolds. Popularité et scepticisme: opinions contrastée sur les médicaments. Anthropologie et Societés, v. 27, n. 2, 2003, p. 97-117.

VAN der GEEST, Sjaak. Anthropology and the Pharmaceutical Nexus. Anthropological Quaterly, v. 79, n. 2, 2006, p. 303-314.

VARGAS, Eduardo Viana. Os Corpos Intensivos: sobre o estatuto social do consumo de drogas legais e ilegais. In: DUARTE, L.F.D; LEAL, O. F. (Orgs.). Doença, sofrimento, perturbação: perspectivas antropológicas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001,p.121-136.

______. Fármacos e outros objetos sócio-técnicos: notas para uma genealogia das drogas. In: LABATE, B. C. et al (Orgs.). Drogas e cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 41-63.

WHYTE, Susan Reynolds; VAN der GEEST, Sjaak; HARDON, Anita. Social Lives of Medicines. UK: Cambridge University Press, 2002. 200 p.

Downloads

Publicado

01-06-2012

Como Citar

Castro, R. . (2012). Antropologia dos medicamentos: uma revisão teórico- metodológica. Revista De Antropologia Da UFSCar, 4(1), 146–175. https://doi.org/10.52426/rau.v4i1.68

Edição

Seção

Dossiê Antropologia e Medicamentos