Cosmopolítica kaiowá e guarani

Uma crítica ameríndia ao agronegócio

Autores

  • Spensy K. Pimentel

DOI:

https://doi.org/10.52426/rau.v4i2.81

Palavras-chave:

Guarani, kaiowá, conflitos agrários

Resumo

Os antropólogos passaram muitas décadas alimentando a ideia de que o discurso dos xamãs tupi/guarani 40 em torno da Terra sem Males, por vezes chamada de Yvy marãney, envolvia “forças centrífugas”, “negadoras do social” (Clastres 1978, p. 45), ou mesmo seria uma “tradução guarani do devir não humano” (Sztutman 2005, p. 41). Pode ser que esse complexo de ideias tenha apresentado esse sentido em alguma de suas transformações registradas ao longo destes cinco séculos, mas o fato é que, hoje, em Mato Grosso do Sul, são as terras a serem demarcadas, os tekoha, que se tornaram a autêntica Terra sem Males a que almejam os Kaiowá e Guarani, literalmente alcançável pela ação política planejada e consciente, e o único horizonte que muitos desses indígenas vislumbram para que se possa recuperar uma sociabilidade minimamente aceitável, que proporcione uma vida plenamente humana. 

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Publicado

01-12-2012

Como Citar

Pimentel, S. K. (2012). Cosmopolítica kaiowá e guarani: Uma crítica ameríndia ao agronegócio. Revista De Antropologia Da UFSCar, 4(2), 134–150. https://doi.org/10.52426/rau.v4i2.81

Edição

Seção

Dossiê Espaços em conflito: temas indígenas contemporâneos