Entre bactérias e lobos

o cerco biopolítico à produção do queijo Canastra

Autores

  • Leonardo Vilaça Dupin
  • Rosângela Pezza Cintrão

Palavras-chave:

campesinato, biopolítica, queijos artesanais, vigilância sanitária, conflitos ambientais

Resumo

Este artigo analisa conflitos decorrentes de restrições legais aos modos de vida de populações da região da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Por um lado, são restrições devidas a exigências de inspeção sanitária de um queijo artesanal produzido na região desde a colonização e, por outro, decorrentes da criação de um parque nacional. As regulações sanitária e ambiental guardam um conjunto de semelhanças na forma como desconsideram referências culturais e condições econômicas locais, mas também em suas origens, que envolvem instrumentos, mecanismos de poder e esquemas interpretativos que se desenvolvem paralelamente à conformação das ciências e dos estados burocrático-racionais modernos. Buscamos descrever de que modo operam as normatizações legais e como estas chegam ao espaço local, gerando reações que revelam assimetrias de poder na legitimação de discursos, mas também desacordos sobre modos de vida e sistemas classificatórios.

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Publicado

01-06-2018

Como Citar

Dupin, L. V., & Cintrão, R. P. (2018). Entre bactérias e lobos: o cerco biopolítico à produção do queijo Canastra. Revista De Antropologia Da UFSCar, 10(1), 53–79. Recuperado de https://www.rau2.ufscar.br/index.php/rau/article/view/227

Edição

Seção

Dossiê Entre a Política e a Técnica: práticas de conhecimento em comparação